terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"A Volta à Gália" versus "Tour de France"

A Volta à França em bicicleta, conhecida por Tour de France, é uma das competições internacionais mais famosas e prestigiadas do mundo do desporto, sendo, indiscutivelmente, o maior acontecimento desportivo que ocorre todos os anos em França, durante o mês de Julho, ao longo de três intensas, emotivas e duras semanas de luta travada entre os "bravos do pelotão".
A propósito da evocação da maior prova do ciclismo mundial e da recente comemoração dos 50 anos (1959-2009) de vida do herói gaulês de banda desenhada, Astérix, aproveito a oportunidade para estabelecer, precisamente, um paralelismo e uma ponte de ligação entre esta importante prova do calendário velocipédico mundial e o universo da Banda Desenhada, mais concretamente, da série personificada por aquele mítico e eterno herói francês da Banda Desenhada Mundial do século XX e XXI.
O famoso herói gaulês, Astérix, foi criado, em 1959, por uma dupla de artistas franceses e grandes mestres da banda desenhada franco-belga e mundial: René Goscinny (argumentista) e Albert Uderzo (ilustrador). A primeira aventura de Astérix foi publicada, há 50 anos, na famosa revista francesa de banda desenhada Pilote, cujo um dos fundadores foi precisamente Goscinny.
Mas - perguntarão os leitores - o que é que a Volta à França em bibicleta tem que ver com Astérix? Pois bem, acontece que este herói gaulês participou numa Volta à França, não em bicicleta (que ainda não existia na altura!), mas a pé, na companhia do seu inseparável amigo, Obélix!
Com efeito, tal sucedeu numa aventura criada, em 1963, por aquela dupla de artistas, cuja história publicada, na forma de episódios em continuação, na revista Pilote, tinha o título: "A Volta à Gália". Esta aventura seria depois editada, em formato de álbum, pela editora francesa Dargaud, dois anos mais tarde, em 1965.
Nesta aventura, os dois irredutíveis heróis gauleses, Astérix e o seu fiel amigo Obélix, empreendem uma viagem a pé por toda a Gália, ocupada naquela época (ano 50 a.C.) pelo inimigo e invasor Romano, cujas legiões eram comandadas pelo General romano, Júlio César. Astérix e Obélix apostam com o Prefeito romano, Flordelotus, em como conseguem viajar tranquilamente por toda a Gália, prometendo, ainda, trazer uma especialidade gastronómica de cada localidade por onde passem, como prova da proeza cometida.
O percurso da viagem era constituído por 12 etapas, como se pode observar nos quadradinhos seguintes, nos quais Astérix traça o itinerário que será percorrido por ele e por Obélix.


Dois primeiros quadradinhos da prancha 5 do álbum (Dargaud). Mapa actual.

Com esta fantástica história, Goscinny e Uderzo pretenderam, de uma forma absolutamente genial, imaginativa e original, homenagear o Tour de France, uma autêntica "instituição" para os franceses e, simultaneamente, dar a conhecer os costumes e tradições e, em particular, a gastronomia das várias regiões da França.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Breve definição e caracterização da Banda Desenhada

Conhecida como a 9ª Arte, a Banda Desenhada pode considerar-se uma forma de arte narrativa e sequencial que conjuga texto e imagens (figuração narrativa), tendo em vista a narração de histórias dos mais variados géneros e estilos. Com efeito, na Banda Desenhada, uma história é narrada por meio de imagens fixas e numa sequência de pequenos quadros também chamados quadradinhos ou vinhetas.
Contudo, é importante sublinhar que a Banda Desenhada não é apenas uma simples sobreposição de imagem com texto. Na verdade, para muitos autores e críticos de banda desenhada, esta é considerada uma forma específica de literatura, em que a uma parte gráfica se conjuga uma parte literária (literatura gráfica), uma vez que a escrita é um aspecto fundamental de um texto de banda desenhada.
A Banda Desenhada pode ser definida e encarada como uma forma de arte muito específica, que utiliza uma linguagem, uma simbologia e um léxico próprios. De facto, palavras como tiras, faixas, bandas, pranchas, vinhetas, balões, onomatopeias, etc., fazem parte de um vocabulário específico desta arte, que consiste em contar histórias com recurso a texto e imagens.
Em Portugal, a Banda Desenhada é conhecida, vulgarmente, por duas designações, muito semelhantes: histórias aos quadradinhos ou histórias em quadrinhos, na versão abrasileirada. Estas histórias podem ser elaboradas e desenhadas a cores ou a preto e branco e podem ser publicadas em diversos suportes e formatos, tais como, revistas (contendo histórias completas ou em continuação), álbuns (cartonados ou brochados) e páginas de histórias (em tiras ou pranchas).
As histórias aos quadradinhos são lidas pelas mais diversas faixas etárias e pelos diferentes estractos sócio-económicos da população, desde crianças em início da idade escolar até leitores mais ou menos idosos, ou seja, constitui uma leitura muito apreciada para qualquer leitor, dos 7 aos 77 anos, como era anunciado pela famosa revista portuguesa Tintin (1968-1982).
De acordo com as circunstâncias específicas dos diversos países onde a Banda Desenhada teve a sua origem e implantação, assim esta adopta diferentes denominações. Nos Estados Unidos da América, convencionou-se chamar-lhe Comics, pois as primeiras histórias de banda desenhada que surgiram eram do género humorístico e cómico. Em França, as histórias de banda desenhada eram publicadas, diariamente, nos jornais, em tiras (bandes, em Francês), ficando, por isso, conhecidas por Bandes-Dessinées. Em Itália, as histórias de banda desenhada foram baptizadas com o nome de balõezinhos ou fumacinhos, daí o termo italiano Fumetti utilizado para designar aquele género de histórias, pois os balões, indicando a fala dos personagens, fazem lembrar uma espécie de fumo saindo da boca dos interlocutores. Em Espanha, para designar as histórias de banda desenhada, adoptou-se a palavra Tebeo, nome de uma revista infantil, a TBO.
No Brasil, durante muito tempo, chamou-se às histórias de banda desenhada Gibi, que era também o nome de uma revista. Hoje em dia, chama-se quadrinhos ou histórias em quadrinhos. No Japão, a expressão utilizada para designar as histórias de banda desenhada é Manga.
No entanto, actualmente, numa era de globalização e de desenvolvimento acelerado das tecnologias de informação e comunicação, com especial destaque para a forte implantação e expansão da Internet, a Banda Desenhada é designada, a nível mundial, por Comics, independentemente da zona geográfica do globo terrestre onde nos encontremos e onde exista Banda Desenhada.
Devido precisamente ao advento das novas tecnologias e à entrada da sociedade humana na era digital, hoje em dia, a Banda Desenhada não só é publicada e editada em formato de papel, como também é publicada em formato electrónico e digital, em edições on-line, agregando, ao seu redor, um universo multifacetado de criações, em termos de histórias e dos seus respectivos heróis, os quais são depois adaptados aos jogos de vídeo e computador, ao cinema, às artes plásticas e aos produtos e acessórios ligados à indústria do merchandising, tais como, brinquedos, bonecos, roupas, louças, posters, calendários, pins, porta-chaves, etc.
Em jeito de conclusão e para terminar, podemos e devemos afirmar que, em pleno século XXI, a Banda Desenhada já não é considerada nem vista, como outrora o foi, como uma espécie de parente pobre da ilustração e, sobretudo, da literatura, sendo, pelo contrário, reconhecida, hoje em dia, como uma das mais modernas e originais linguagens específicas do nosso tempo, uma linguagem universal com um elevado poder de comunicação, que vai, certamente, continuar a cativar e a fascinar gerações de leitores por todo o Mundo, como o fez, aliás, ao longo do século XX.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Origem e descrição de uma paixão - A Banda Desenhada!

A primeira vez que tomei consciência da existência da Banda Desenhada foi em 1972, tinha eu 4 anos e meio, através da revista portuguesa Tintin que o meu pai comprava para o meu irmão mais velho. Nessa altura, entretinha-me e deliciava-me a ver apenas as imagens e os desenhos dessas histórias aos quadradinhos.
A partir do primeiro contacto com esta excelente revista, os meus pais e familiares começaram a oferecer-me, pelos anos e pelo Natal, os primeiros álbuns de banda desenhada, editados pela Bertrand, com as histórias daqueles que viriam a tornar-se nos meus heróis favoritos: Astérix, Bernard Prince, Blake e Mortimer, Bruno Brazil, Comanche, Dan Cooper, Luc Orient, Michel Vaillant, Ric Hochet, ...
Assim, a partir de 1974, com a minha entrada na escola, aos 6 anos, comecei finalmente a ler e a apaixonar-me definitivamente por estas histórias da banda desenhada franco-belga, cujos álbuns da Bertrand e a revista Tintin continuei a comprar até ao fim desta publicação, em 1982.
Entretanto, nos anos seguintes, paralelamente e simultaneamente, com a descoberta do mundo da banda desenhada franco-belga, que coincidiram com o fim da minha infância e início da minha adolescência, fui aumentando e enriquecendo a minha colecção de banda desenhada com outro tipo de histórias aos quadradinhos, como as revistas brasileiras da editora Abril, com os heróis da Disney, casos de Mickey, Pateta, Tio Patinhas, Pato Donald, Zé Carioca, ... ou, ainda, a famosa revista portuguesa de O Mundo de Aventuras e as revistas da conhecida editora brasileira EBAL, com heróis como Superman, Superboy, Zorro, Tarzan, Príncipe Valente, Flash Gordon, Rip Kirby, Jim das Selvas, Mandrake, Fantasma, ...
Não admira, pois, que os meus heróis de banda desenhada do século XX preferidos, que mais me marcaram na minha juventude e que continuam, ainda hoje em dia, a influenciar os meus gostos e preferências, sejam precisamente aqueles que atrás referi.
Aliás, estes heróis e as respectivas histórias aos quadradinhos marcaram uma época na própria História da Banda Desenhada Mundial. Com efeito, podem-se destacar duas épocas fundamentais da Banda Desenhada do século XX, que, foram e continuam a ser, para mim, até hoje, as melhores de sempre da 9º Arte.
Estou a referir-me, concretamente, a duas "idades de ouro" da Banda Desenhada Mundial: 1ª) a Banda Desenhada Norte Americana, conhecida por Comics, que vai de 1929 a 1945, marcada pelas famosas comic strips ou sunday strips, cujas histórias em tiras eram distribuídas pelas agências de imprensa (Syndicates) e publicadas nos jornais dominicais e, mais tarde, também nos diários; 2ª) a Banda Desenhada Franco-Belga, que vai de 1945 a 1965, influenciada pelas três grandes Escolas de Banda Desenhada daqueles dois países: a Escola Belga de Charleroi, do Journal Spirou (de Franquin, Peyo, Jijé...), a Escola Belga de Bruxelas, do Journal Tintin (da famosa "linha clara" de Hergé, Jacques Martin, Edgar Pierre Jacobs, Paul Cuvelier, Bob De Moor, ...) e a Escola Francesa de Paris, da revista Pilote (de Goscinny, Uderzo, Morris, Charlier, Hubinon, Giraud, ...).
É, portanto, sobre estas duas épocas ou "idades de ouro" da Banda Desenhada do século XX, com todos os seus autores e artistas, argumentistas e ilustradores, heróis e séries, histórias e aventuras, que irei escrever neste blogue.